sexta-feira, 20 de novembro de 2020

“A carne negra é a carne mais barata do mercado”

Os versos cantados em tom de luta por Elsa Soares se tornam ainda mais dolorosos neste Dia da Consciência Negra com a notícia de mais um homem negro assassinado em um supermercado. Ontem, 19, João Alberto Soares, 40 anos, foi espancado até a morte numa unidade do Carrefour, em Porto Alegre.

Mais uma vez, mataram um homem negro na frente das câmeras! É como se a vida de um negro não valesse nada. Essa percepção ora sútil, ora escancarada denuncia que o racismo deu tão certo no Brasil que ele é negado e, por vezes, de difícil percepção.

O Carrefour deu uma resposta padrão como o Extra de que os assassinos, um policial militar, inclusive, eram terceirizados, foram desligados e tal, mas VIDAS NEGRAS IMPORTAM independente da exploração econômica e do regime de contratação das empresas e da terceirização da responsabilidade pelo assassinato.

Em fevereiro do ano passado, Pedro Henrique Gonzaga, um negro de 19 anos, foi morto asfixiado por um segurança do supermercado Extra na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Testemunhas alertaram que Pedro estava "sufocando" e ficando "roxo", mas os torturadores mantiveram a agressão até a morte.

Em julho de 2019, um negro de 17 anos, catador de materiais recicláveis, teve a roupa arrancada, foi amordaçado e chicoteado por dois seguranças sob a acusação de tentar um furto de barras de chocolate num supermercado da rede Ricoy, em São Paulo. A desculpa padrão para a sessão de tortura foi de que a segurança era de uma empresa terceirizada.

Em agosto último, o entregador Matheus Fernandes foi acusado de roubo ao ir trocar o relógio que havia comprado de presente para o pai na Renner, do Shopping Ilha Plaza, no Rio de Janeiro. Ele foi imobilizado na escada de emergência, agredido e teve uma pistola apontada para ele. Tudo gravado.

Nos EUA, o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) tomou as ruas do país contra o assassinato de George Floyd, estrangulado até a morte por um policial branco que se ajoelhou em seu pescoço. Há outras tantas mortes.

Ser negro é ter expectativa de vida menor, empregos piores, ser perseguido pela polícia e pré-julgado pela cor da pele, ser destratado, sofrer preconceito velado no mercado de trabalho sob termos como “boa aparência”.

O Brasil é um país negro e pardo. O IBGE comprova. São 54% da população. Contudo, até mesmo a identificação como negro é uma percepção que só alcançamos agora por causa da luta do movimento negro pela aceitação, contra o preconceito racial e, indissociavelmente, social. É grave a constatação de que o racismo faz com que parte da população tenha dificuldade de aceitar a sua identidade étnica, pois a “branquitude” é tida como mais valorizada socialmente.

AINDA É PRECISO EXPLICAR O PORQUÊ DO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, QUE RACISMO REVERSO NÃO EXISTE E QUE ISSO NÃO É MIMIMI?

Não basta não ser racista! É preciso ser antirracista! É isso o que nos ensina a luta da população negra no Brasil e no mundo e também de outras etnias, como indígenas.

E esta luta precisa ser ampla para ter efeito. O sistema econômico nos segrega, nos explora, nos divide em subgrupos e domina soberano. É preciso mudar mentes! Combater o racismo, o fascismo, o machismo, a homofobia/transfobia, a exploração econômica, pois todos esses males convergem na exploração de classes e na perpetuação das injustiças sociais e desigualdades.

A luta é do tamanho da importância da vida de todos nós!

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