terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Ford é o exemplo do poder de destruição do liberalismo

O problema nunca foi a CLT, os direitos trabalhistas ou previdenciários; o problema é o sistema.

O fechamento das fábricas da Ford no Brasil é resultado de uma nova fase do capitalismo no mundo. A pandemia acelerou um processo que é tendência há anos: a redução de unidades produtivas, a concentração dos meios de produção, o enxugamento do quadro de funcionários.

image

No setor automobilístico, o grupo FIAT/Chrysler/Jeep se fundiu ao grupo PSA (Peugeot, Renault). Há concentração de produção e redução da ilusão de livre concorrência com os conglomerados automobilísticos se fundindo. Outras fusões estão em estágio avançado no mundo. Livre concorrência pra quê? O mercado automotivo gosta mesmo é de monopólio.
O Banco do Brasil anunciou o fechamento de 231 unidades no Brasil e o desligamento de até cinco mil bancários. O liberalismo impõe a redução máxima de custos para o aumento dos lucros. Santander e Bradesco já haviam anunciado o mesmo: redução massiva de unidades físicas e demissões em massa. E isso ocorre em todos os setores da economia mesmo após as reformas neoliberais.

O mantra liberal de seja seu próprio patrão, torne-se um empreendedor livre da opressão da CLT e dos direitos trabalhistas não vai absorver esta mão de obra. O mercado endemonizou os direitos trabalhistas. Bolsonaro cansou de dizer que “é muito difícil ser patrão no Brasil”. Com esta lógica sádica e pelega de que é melhor “pingar do que faltar”, Paulo Guedes vira e mexe vem com o projeto de carteira de trabalho verde e amarela, que é praticamente a volta da escravidão.
Outro agravante do fechamento da Ford no Brasil é que o liberalismo (o estágio de avanço atual do capitalismo) investe na desindustrialização acelerada porque o setor de serviços garante lucros maiores a custos menores. É o setor que mais explora a mão de obra com remuneração aviltante. Assim, a Ford prefere concentrar a produção na Argentina e se tornar uma mera importadora no Brasil.

O capitalismo não é sustentável. Suas novas facetas, sua nova roupagem, suas fases empoderadas de liberalismo perfumado com aumento de exploração e concentração de renda deixam claro.

Não há limites para a natureza selvagem e destruidora do capital. Do que adiantou o vitimismo patronal de que a reforma trabalhista, a reforma da previdência e a terceirização irrestrita seriam a solução para todos os problemas do dito “mercado”?
Estudos comprovam que as reformas neoliberais apenas criaram uma mão de obra superexplorada e reduziram o poder de compra das famílias brasileiras. Contudo, os ricos estão mais ricos. Mesmo na pandemia, aumentou o número de bilionários no mundo.

Enquanto pregam o mantra liberal de menos Estado, empresas são financiadas pelo dinheiro público. A GM só sobreviveu nos EUA à crise de 2008 com a injeção de bilhões pelo governo Barack Obama. Aqui, a Ford deve R$ 335 milhões ao BNDES. Lembra dos fake news na última eleição envolvendo a caixa preta do BNDES? Pois é! Abriram a caixa preta e encontraram empresas como a Ford, Luciano Huck e Luciano Hung das lojas Havan pendurados lá. O mercado adora Estado Mínimo para o povo e máximo para si mesmo.

Lembram quando nós do Sindicato dos Químicos, do movimento sindical de luta ficávamos defendendo que os governos exigissem a manutenção dos empregos nas empresas financiadas com dinheiro público? Isso impediria as demissões na FORD, na Embraer e na cadeia de produção, o que ninguém lembra que existe. Trabalhadores ainda menos assistidos e mais explorados também serão afetados com os efeitos nas fornecedoras de autopeças.

Quer saber qual a grande ironia do fechamento da Ford no Brasil? A empresa não tem conseguido suprir a demanda, ou seja, o prazo de entrega de seus carros é alto. Não tem pronta entrega. Apesar de qualquer outra reforma, sabia que a margem de lucro das montadoras no Brasil é o maior do mundo?

Para justificar o fracasso do liberalismo no setor, Paulo Guedes agora fala na reforma tributária, que nunca foi do interesse do Congresso Nacional porque eles são ricos e empresários. A situação tributária atual no Brasil garante privilégio de R$ 305 bilhões para a elite, que não tem interesse em acabar com guerra fiscal entre estados, aumentar impostos para os ricos, que proporcionalmente pagam menos impostos que os pobres. Nem a mera correção da tabela do Imposto de Renda que está defasada há anos é de interesse do Congresso. Se você pagar menos imposto, eles terão que arcar com mais.

O problema, de fato, é a natureza insustentável deste liberalismo adorado por Paulo Guedes que explodiu no Chile, por exemplo. E este modelo de exploração só consegue ser aplicado com governos autoritários a serviço da elite. É por isso que Bolsonaro por mais bizarro, chucro, autoritário que seja e tenha enriquecido com rachadinha nos gabinetes e realizado a multiplicação dos imóveis milionários tal qual os filhos dele é do interesse do mercado.

O liberalismo não se preocupa com a corrupção dos seus agentes porque ele é uma forma de corrupção em si mesmo. É preciso investir na qualidade de vida do povo trabalhador. E isso só com a superação desta política econômica que vai contra os interesses do povo.

Assim sendo, tirar Bolsonaro do poder é um avanço importante para que possamos resgatar as políticas de Estado para o povo trabalhador e interrompermos os ataques destes agentes da exploração do povo trabalhador. Porém, a luta contra o sistema de exploração é eterna.

Toda a nossa solidariedade aos trabalhadores da Ford e seus familiares assim como aos da Embraer, Banco do Brasil e todas as outras empresas privadas ou públicas sucateadas pelo sistema.

Notícias anteriores